Comício em Matosinhos encerra primeira fase
de campanha do PCP

Combater a precariedade<br>de viva voz

O ci­ne­te­atro Cons­tan­tino Neri, em Ma­to­si­nhos, foi pe­queno para aco­modar as cen­tenas de pes­soas que na pas­sada quarta-feira, 29 de Junho, afluíram ao co­mício da Or­ga­ni­zação Re­gi­onal do Porto para as­si­nalar o en­cer­ra­mento da pri­meira fase da cam­panha «Mais di­reitos, mais fu­turo. Não à pre­ca­ri­e­dade».

A pre­ca­ri­e­dade «des­troça ge­ra­ções», tes­te­mu­nhou uma jovem tra­ba­lha­dora

A par­ti­ci­pação na ini­ci­a­tiva foi tal que, à úl­tima hora foi ne­ces­sário pro­ceder à co­lo­cação de um ecrã no hall do edi­fício para que aqueles que não con­se­guiram en­trar na sala pu­dessem acom­pa­nhar o co­mício.

Desde cedo se per­cebeu que este seria um co­mício di­fe­rente do usual, dada a cen­tra­li­dade as­su­mida, quer pelos riquís­simos de­poi­mentos na «pri­meira pessoa» tra­zidos por quatro tra­ba­lha­dores, quer pela apre­sen­tação do co­mício le­vada a cabo por José Pedro Ro­dri­gues, membro da Di­recção da Or­ga­ni­zação Re­gi­onal do Porto e da Con­ce­lhia de Ma­to­si­nhos do PCP, a quem coube in­ter­ligar esses de­poi­mentos e con­tex­tu­a­lizá-los no âm­bito da luta e pro­posta do Par­tido.

O pri­meiro – e por­ven­tura mais es­cla­re­cedor – de­poi­mento da noite, foi de Sónia Sousa, tra­ba­lha­dora de um call-center da PT com 12 anos de vín­culos su­ces­sivos a em­presas de tra­balho tem­po­rário. Para esta tra­ba­lha­dora, a pre­ca­ri­e­dade é algo que «des­troça a vida de muitas ge­ra­ções» e que nada tem a ver com «a ne­ces­si­dade ex­cep­ci­onal ou oca­si­onal» de tra­ba­lha­dores. Trata-se so­bre­tudo de um ex­pe­di­ente para «o pa­tro­nato não aplicar os di­reitos dos tra­ba­lha­dores», e parte de uma es­tra­tégia de «subs­ti­tuição de tra­ba­lha­dores efec­tivos por pre­cá­rios».

No sector das te­le­co­mu­ni­ca­ções, afirmou Sónia Sousa, o tra­balho pre­cário au­mentou «bru­tal­mente», es­ti­mando-se que já atinja cerca de 50 mil tra­ba­lha­dores.

É neste con­texto que a maior em­presa na­ci­onal de te­le­co­mu­ni­ca­ções, a PT, as­sume o papel de ser também a maior cúm­plice na pro­moção do tra­balho pre­cário. Prova desse facto está na re­acção mo­ti­vada pela gestão rui­nosa da an­te­rior ad­mi­nis­tração do grupo que, re­corde-se, «dis­tri­buiu 11,5 mil mi­lhões de euros em di­vi­dendos aos ac­ci­o­nistas» e «en­terrou 900 mi­lhões» no grupo GES.

A PT, agora sob a gestão da Al­tice, de­cidiu apertar no­va­mente o cerco aos tra­ba­lha­dores. Fi­cámos a saber que está em curso um pro­cesso de re­es­tru­tu­ração que visa cortar nos 16 mil tra­ba­lha­dores que du­rante anos foram usados em re­gime de out­sor­cing

A mesma his­tória

Novo de­poi­mento, novas in­for­ma­ções vindas do ter­reno. Igor Silva, tra­ba­lhador da vi­gi­lância, des­creveu a si­tu­ação no seu sector. «Não temos posto de tra­balho, apenas local de tra­balho». Al­te­ra­ções gra­vosas na lei e na con­tra­tação co­lec­tiva levam a que cen­tenas de tra­ba­lha­dores es­tejam su­jeitos a enorme pre­ca­ri­e­dade, tal como agora acon­tece com os 300 tra­ba­lha­dores da Grupo 8, que per­deram o posto de tra­balho de­vido à não re­no­vação do con­trato com a REFER, e em que apenas lhes foi dado a es­co­lher entre duas op­ções: ser trans­fe­ridos para a STRONG e perder di­reitos; ou ha­bi­litar-se a ser alvo de des­pe­di­mento co­lec­tivo.

Nelson Fer­reira, tra­ba­lhador da EMEF, membro do Co­mité Cen­tral, des­creveu a forma como a pre­ca­ri­e­dade, sendo trans­versal à so­ci­e­dade ca­pi­ta­lista, também afecta os tra­ba­lha­dores da sua em­presa. Re­latou, para esse efeito, o caso dos 40 tra­ba­lha­dores pre­cá­rios que foram con­tra­tados na sequência do fim do con­sórcio com a Bom­bar­dier. Muitos destes tra­ba­lha­dores vi­viam com con­tratos de um mês de du­ração e fi­cavam até ao úl­timo dia à es­pera de re­ceber um te­le­fo­nema para saber se con­ti­nu­avam a ter posto de tra­balho.

No en­tanto, os tra­ba­lha­dores da EMEF nunca acei­taram esta si­tu­ação. Com o apoio do sin­di­cato de classe fi­liado na CGTP, da luta e de muita pressão, este ano a Ad­mi­nis­tração passou estes tra­ba­lha­dores ao quadro, pro­vando «que vale a pena lutar, que a luta de classes con­tinua a ser questão cen­tral da época con­tem­po­rânea» e que estas al­te­ra­ções só foram pos­sí­veis graças à nova cor­re­lação de forças na As­sem­bleia da Re­pú­blica e ao «papel de­sem­pe­nhado pelo nosso Par­tido».

Ânimo e luta

Também a si­tu­ação dos tra­ba­lha­dores com fun­ções de na­tu­reza in­te­lec­tual foi abor­dada. João Freire, psi­có­logo, des­creveu a pre­ca­ri­e­dade como sendo «um dos mais po­de­rosos ins­tru­mentos de opressão sobre os tra­ba­lha­dores», até porque «de­monstra a na­tu­reza ver­da­dei­ra­mente cruel da equação ca­pi­ta­lista» ao «fazer do di­reito ao tra­balho com di­reitos uma va­riável, quando de­veria ser uma cons­tante».

Este é um facto que não passa des­per­ce­bido aos psi­có­logos, e a «todos os tra­ba­lha­dores so­ciais», pois estes, afirmou João Freire, «têm cons­ci­ência tan­gível das armas do ca­pital, tra­ba­lham com as suas ví­timas e são si­mul­ta­ne­a­mente ví­timas da pre­ca­ri­e­dade que os ins­tru­men­ta­liza».

Sobre a sua classe pro­fis­si­onal, des­tacou que há muito a fazer no campo do com­bate pela me­lhoria das con­di­ções de tra­balho, «já de si muito pre­cá­rias», dos psi­có­logos.

Mas «temos ânimo», afirmou. «Avan­çamos no campo po­lí­tico e uni­tário com o re­a­lismo de quem sabe que a luta se faz na du­reza da sua con­dição, de outra forma, não seria luta».

O Se­cre­tário-geral do PCP, Je­ró­nimo de Sousa, en­cerrou o co­mício em Ma­to­si­nhos com uma in­ter­venção da qual pu­bli­camos ex­certos nas pá­ginas se­guintes.

 



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